segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Integração entre lavoura e pecuária recupera áreas e reduz custos
No Brasil, 90% dos criadores engordam os animais só no pasto; o maior produtor mundial de carne são os EUA, com metade do rebanho
A técnica que permite integrar a atividade agrícola com a pecuária já tem mais de 20 anos. No começo, era usada apenas para recuperar as pastagens, baixando os custos do produtor. Hoje, o aperfeiçoamento da integração lavoura-pecuária comprova que, além de baixar custos, melhora a qualidade do solo, ajudando a aumentar a produtividade do milho e da soja.
O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo. São 200 milhões de animais, o que corresponde a mais de uma cabeça para cada habitante do país. Porém, o maior produtor mundial de carne não é o Brasil, e sim os Estados Unidos, que têm a metade do nosso rebanho.
A diferença está na qualidade genética e, principalmente, no manejo da criação. Nos Estados Unidos, a fase de cria é feita a pasto, mas 90% dos animais são engordados em confinamentos gigantescos, onde recebem indução de hormônios para melhorar o ganho de peso e comida à vontade.
No Brasil, só uma pequena parte do rebanho passa pelo confinamento. Algumas fazendas, como uma do município de Itatiba, em São Paulo, usa o sistema de semiconfinamento. Os animais são criados no pasto, e, na fase de terminação, recebem uma suplementação de ração no corpo. No entanto, 90% dos criadores engordam os animais só no pasto.
Para manter nosso mega rebanho a pasto, são necessários 200 milhões de hectares de pastagens, o que equivale a sete países da Europa, como Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Suíça e Itália.
Quando as terras disponíveis no Sudeste e no Centro-Oeste começaram a faltar, o boi migrou para a Amazônia. Grandes áreas da floresta milenar foram substituídas pelo capim. Esse processo transforma o boi no principal vilão do desmatamento.
É possível, porém, reverter esse quadro: basta reformar as pastagens degradas pelo país afora. São cem milhões de hectares. Se essa área fora recuperada com pasto e lavoura, é possível dobrar a produção de carne e grãos do país.
O engenheiro agrônomo João Cuthcouski, da Embrapa Arroz e Feijão de Goiás, mais conhecido pelo apelido de João-K, é um dos maiores críticos do sistema extensivo adotado pela pecuária brasileira. Há mais de 20 anos, defende a recuperação das pastagens degradas com a técnica batizada de integração lavoura-pecuária, como no caso em que a braquiária foi semeada junto com o milho.
Não há necessidade nenhuma de discutir sobre a Amazônia. A Amazônia fica lá, intacta, porque temos 100 milhões de hectares de pasto de fundo que podem ser transformados no país. Se hoje, com 45 milhões de hectares, nós produzimos essa safra de grãos que nos valoriza em termos mundiais, imagina se nós, no mínimo, dobrarmos nessa área que está degradada. Nós vamos produzir mais barato e ter uma sustentabilidade que nenhum país do mundo poderia competir conosco em termos de produção de alimentos, afirma o engenheiro agrônomo.
Fonte: pe360graus.com
Um pasto recém-formado será usado durante três anos. Por isso, a integração lavoura-pecuária exige a divisão da fazenda em quatro partes. Assim, todo ano, o pasto mais antigo é renovado com a lavoura. Além de o capim se beneficiar do adubo usado na lavora, a colheita dos grãos paga todos os custos da recuperação do pasto.
A técnica de integração da lavoura com a atividade pecuária foi mostrada pelo próprio Cuthcouski há 19 anos no Globo Rural, e foi batizada de sistema barreirão, porque transformou as pastagens degradadas da fazenda do mesmo nome, em Goiás.
Para transformar o cenário, primeiro é preciso fazer uma gradagem, incorporando o mato e destruindo os cupins. Depois, vem o arado aiveca, para descompactar e revirar o solo. Por fim, é necessário passar a grade niveladora para acertar o terreno. Em áreas com declive, é necessário fazer curva de nível para evitar erosões.
No início, a cultura recomendada é o arroz, consorciado com a braquiária. A correção do solo e a adubação dependem do resultado da análise do solo.
O pulo do gato está na hora do plantio. A plantadeira é regulada para colocar as sementes do arroz a quatro centímetros de profundidade. As sementes do capim, no caso, a braquiária, são colocadas junto com o adubo, a dez centímetros do chão.
A técnica faz o arroz nascer primeiro e reduz a competição entre as duas culturas. As sementes do capim aproveitam os resíduos do adubo usado no arroz.
Com a colheita, o produtor paga os custos da recuperação do pasto e ainda sobra a palha do arroz para adubar o capim. Duas semanas depois da colheita do arroz, a pastagem já pode ser utilizada para alimentar o gado. Quatro anos depois, quando a área for renovada, o produtor já pode usar culturas de maior valor econômico, como o milho e a soja.
Hoje, 19 anos depois da primeira reportagem, a integração lavoura-pecuária já foi implantada em várias regiões do país, mas muitos pecuaristas ainda não se conscientizaram das vantagens do sistema. O pecuarista tem uma cultura de que aquilo que ele faz, e que o avô e o bisavô já faziam, é o correto. Ele não quer fazer investimento e quer comodidade, diz Cuthcouski.
Apesar do descrédito dos criadores, o casamento entre agricultura e pecuária continua produzindo frutos. O capim que era cultivado só para alimentar o gado está beneficiando também as lavouras. A fazenda Santa Brígida recuperou 600 hectares de pastagens, onde produz soja, milho, eucalipto e pasto para 550 bois.
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