Adriana Natali
Mas, para além da discussão ambiental, existe a demanda de mercado. Todo esse processo vai exigir profissionais competentes e preocupados com a preservação da natureza, conscientes da manutenção das condições de vida do planeta e preocupados em serem efetivamente os profissionais "verdes". Não apenas por uma condição "politicamente correta", mas também por questões econômicas. Está aberta uma oportunidade de mercado difícil de ignorar, tanto para os empregadores quanto para os empregados.
"Cabe às instituições de ensino superior formar essa consciência, competência e envolvimento dos profissionais para a garantia da preservação e manutenção do planeta para a nossa e as futuras gerações. Torna-se imperioso que elas voltem sua atenção para a formação de profissionais, acima de tudo, éticos e responsáveis pela manutenção de um mundo equilibrado e adequado tanto à vida do homem quanto da natureza", afirma Turguenev Roberto de Oliveira, professor do Centro Universitário Belas Artes.
Por várias razões a adoção dessa tendência verde, não somente nas instituições de ensino, mas em todos os componentes da sociedade atual, vem se mostrando uma necessidade urgente. "As universidades não podem se eximir de estimular a inovação, desenvolvendo tecnologias ambientalmente mais amigáveis, capazes de evitar ou mitigar os impactos produzidos pela sociedade da qual fazem parte", afirma o coordenador científico do Instituto do Meio Ambiente da PUC-RS, Jorge Alberto Villwock.
Este processo, segundo Villwock, se inicia com o comprometimento da administração na busca pela sustentabilidade a partir de três componentes essenciais: o ambiental, o social e o econômico. A conscientização dos docentes, servidores e discentes é o próximo passo. "É um processo lento. Para obter sucesso, de modo que as novas práticas se tornem rotina, é necessário despertar consciências, promover mudanças de atitudes, comprometendo cada um dos indivíduos, transformando-os em atores da mudança."
Para Leda Maria de Oliveira Rodrigues, professora da Faculdade de Educação da PUC de São Paulo, os chamados "profissionais verdes" são de extrema importância. "O professor é um dos agentes formadores da consciência da manutenção e preservação da natureza. Portanto, todos os profissionais das áreas das ciências exatas, biológicas e humanas estão envolvidos nesta luta. Mais que isso, o trabalho de todas as áreas está interligado, portanto esses profissionais devem desenvolver a prática de trabalho conjunto, com planos que envolvam todas as áreas."
Várias instituições, em todo o mundo, já adotam essa nova postura e é possível afirmar que não há uma receita única. O importante é a constante avaliação dos resultados, o estabelecimento de novas metas e o aperfeiçoamento de um processo que nunca terminará.
"Não é uma questão de oportunidade, mas de necessidade para não só garantir, mas qualificar o maior número possível de profissionais para um diálogo interdisciplinar essencial numa economia que está avançando para uma base de baixo carbono, lentamente, é verdade, mas a tendência para uma economia verde é um dado de realidade. Existe uma carência desses profissionais e diversas formações estão cumprindo esse papel", acredita Pedro Jacobi, vice-presidente da Comissão de Pós-Graduação do Procam, Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP).
Para o arquiteto e urbanista José Ripper Kos, professor nas universidades federais do Rio de Janeiro e de Santa Catarina, essas mudanças são urgentes e, embora existam diversas iniciativas nas universidades direcionadas para a mudança dessas relações, elas acontecem geralmente de forma isolada e o impacto na formação de novos profissionais ainda é muito lento. "Tudo indica que a pressão da sociedade exigindo essas mudanças será cada vez mais forte."
Mas ele acredita que as instituições de ensino superior ainda não estão se preparando como deveriam. "Parece-me que essas mudanças ainda são raras em escolas de todo o mundo. Recentemente, um grupo de escolas europeias de arquitetura de diversos países entrou em contato com a universidade, solicitando experiências nessa direção para a elaboração de sugestões para a formação de profissionais mais bem preparados para nossa nova realidade", justifica.
Uma das principais características desses novos profissionais será a capacidade de trabalhar de forma colaborativa com grupos de diferentes áreas (veja box na página 23). A utilização mais abrangente da energia solar, por exemplo, exige um número maior de profissionais, mas não existem engenheiros suficientes com a qualificação desejada para esse sistema. Atualmente, as energias renováveis correspondem a cerca de 3% do sistema energético mundial. A estimativa é que o consumo mundial de energias renováveis chegue a 10% em 2020 e, em 2050, será de 40% a 50%.
Marcondes, da Envolverde: empresas buscam em institutos formação que deveria vir das universidades |
Dal Marcondes, jornalista especialista em sustentabilidade, diretor da ONG Envolverde, especializada no tema, acredita que empresas, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e todas as esferas de governo precisam cada vez mais de profissionais com especialização em meio ambiente, seja em gestão ambiental ou empresarial. "Serão criadas milhares de vagas com essa necessidade nos próximos três anos. As universidades precisam compreender esta oportunidade e oferecer aos estudantes cursos com viés socioambiental em todas as áreas do conhecimento".
De acordo com ele, meio ambiente não é mais uma cadeira específica, mas um conhecimento que precisa ser incorporado em quase todas as áreas do conhecimento. É uma oportunidade para estudantes, mas é, também, uma oportunidade para que universidades saiam na frente para criar a interdisciplinaridade do conhecimento sobre meio ambiente e sustentabilidade.
"É preciso pensar fora do âmbito do 'normal' e buscar os conhecimentos onde eles estejam. As universidades devem buscar a integração com áreas de conhecimento avançado em sustentabilidade, inclusive ONGs, para formatar cursos e formalizar carreiras", sugere.
Atualmente, as empresas mais bem estruturadas contam com gerências e diretorias de sustentabilidade e publicam relatórios baseados em padrões internacionais. A tendência é essas áreas fazerem parte das decisões estratégicas do negócio e gerarem maior demanda por especialização e especialistas.
"Muitas empresas estão buscando formação em ONGs e em institutos para suprir a baixa oferta de especialistas pelas universidades", afirma Marcondes, para quem é preciso criar cursos de graduação, especializações, mestrados e doutorados em meio ambiente e sustentabilidade.
"Esta é uma questão complexa. É uma mudança de cultura que exige um planejamento e alterações de longo prazo. É mais fácil começar pelos cursos e depois incorporar esses conhecimentos e transformações na cultura de gestão da instituição", defende Marcondes.
As habilidades do novo profissional | |
- Entende o conceito de desenvolvi-mento sustentável e sua interface com diversos saberes. - Sabe identificar riscos e oportunidades associados à sustentabilidade. - Conhece os instrumentos e ferramentas disponíveis em sua área de atuação para a aplicação prática do conceito. - Consegue trabalhar em times multidisciplinares. - Possui habilidades para o gerenciamento de conflitos. |
O impacto em algumas profissões | |
Administrador de empresas: um profissional que trabalha no departamento de relações com o mercado de uma empresa de capital aberto, por exemplo, deve conhecer profundamente ferramentas de relatórios de gestão como o GRI (Global Reporting Initiative), indicadores de sustentabilidade como o ISE Bovespa ou o Dow Jones Sustainability Index. Engenheiro ambiental: a visão tradicional da engenharia voltada para os projetos de fim de tubo (sistemas de controle de poluição) deve ser ampliada com a adoção de abordagens preventivas; incorporar análise de ciclo de vida dos produtos e integrar seus projetos aos sistemas de gestão. Designer industrial: precisa dominar o conceito de ecodesign e técnicas e instrumentos para sua aplicação e incorporar a visão de ciclo de vida com o objetivo de desenvolver produtos e serviços com baixo impacto ambiental. |
Vídeo será distribuído nas escolas | |
Com o objetivo de conscientizar alunos e professores de escolas e instituições de ensino superior sobre questões ambientais, os publicitários Fernando Cozza Bianchi e Paula Schuwenck estão produzindo e dirigindo o documentário Mais Consciência. O primeiro filme de uma série de quatro, com duração de uma hora cada, deve começar a ser distribuído nas instituições de ensino a partir de março, e tem como temas centrais os malefícios da pecuária e energias renováveis. Os demais vídeos tratarão do aquecimento global; Amazônia; consumo consciente; alfabetização ecológica e consciência cidadã. "Se o aluno souber os prós e os contras de determinadas ações do dia a dia, ele saberá, no futuro, escolher alternativas que não prejudiquem o meio ambiente", diz Fernando, que explica já ter desembolsado R$ 72 mil de recursos próprios para viabilizar o projeto. O produtor espera angariar outras formas de apoio, desde parcerias institucionais e pedagógicas até recursos financeiros, que permitam dar maior visibilidade ao tema. |
2 comentários:
Acompanho há tempos as discussões e vejo que tudo recomeça do zero invariavelmente. Não há acúmulo de massa crítica e as iniciativas se perdem no espontaneismo e demandas sazonais. Quero francamente colaborar, fazendo a minha parte e há muitos exemplos bons a serem seguidos, mas se estamos condenados a recomeçar do zero, aí fica difícil.
Gostaria de saber se é verdade, que existe uma portaria do Ibama que diz da interdiciplinariedade da materia ambiental, e por essa razão não deveria haver uma cadeira específica de Meio Ambiente, pois poderia se aplicar em todas as matérias.
Att.,
Talitha
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