quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Seca: 123 cidades do Nordeste sob risco






Levantamento do Correio aponta situação dramática em funcção da estiagem. Para agravar o problema, diálogo entre as Defesas Civis estaduais e o escritório nacional está defasado
  Débora Álvares, do Correio Braziliense

Enquanto o país ainda não se recuperou da tragédia na região serrana do Rio, onde a chuva matou mais de 800 pessoas, um outro cenário de drama em razão de mudanças climáticas começa a se desenhar nos dois extremos do país. Levantamento feito pelo Correio com todas as Defesas Civis do Brasil mostra que 123 municípios do Nordeste decretaram estado de emergência por causa da seca. O Rio Grande do Sul, estado que historicamente tem a melhor distribuição de chuvas de todo o Brasil, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), também sofre com a estiagem e tem 13 cidades nessa situação.
Apesar de a situação exigir atenção de todos os órgãos responsáveis, as Defesas Civis estaduais, aparentemente, não mantêm um diálogo direto e eficaz com o órgão central de controle, a Secretaria Nacional de Defesa Civil. Para se ter uma ideia, enquanto a Secretaria Nacional tem registro de cinco municípios cearenses com decreto de estado de emergência em análise e nenhum com a situação reconhecida, o órgão estadual afirma que já são 85. O mesmo ocorre na Bahia, onde 21 cidades pediram ajuda, segundo dados estaduais, mas nacionalmente apenas sete foram registradas.



Independentemente da disparidade dos números, as Defesas Civis estaduais tentam amenizar a situação nos locais afetados. Uma das soluções básicas encontradas foi a parceria com o Exército para fornecimento de água no Nordeste, medida batizada de Operação Pipa. Lá, os agentes levam também cestas básicas aos locais atingidos. De acordo com a técnica da Defesa Civil do Ceará Ioneide Araújo, os produtores afetados contam, ainda, com uma indenização por perdas na safra. Em Sergipe, onde 11 cidades pediram socorro - são cerca de 70 mil pessoas afetadas -, 115 caminhões-pipa fazem o abastecimento de água.
O meteorologista Francisco de Assis Diniz explica que, embora os estados nordestinos estejam entre os locais que sofrem com a seca, foi o índice de chuvas abaixo do esperado em 2010 que agravou a situação no início de 2011. As áreas mais afetadas estão a oeste de Sergipe, Alagoas e Pernambuco, que tem, ainda, seca no sertão. O norte da Bahia e o sul do Ceará também passam por uma situação muito complicada. A região (veja o mapa abaixo), que costuma registrar cerca de 800 milímetros de chuva anualmente, teve, em média, 400mm no ano passado. O excesso de chuva em alguns locais (em especial a zona da mata e o litoral), somado às tradicionais estiagens do sertão, fez com que o número de decretos de emergência e de situação de calamidade pública de municípios do Nordeste batesse recorde no ano passado, com 792 registros.
No Rio Grande do Sul, a estiagem, que afeta o oeste e o extremo sul da região, começou em outubro, quando choveu uma média de 150mm a menos que o esperado - o que se repetiu ao longo de novembro e dezembro. Para todo o mês de janeiro, o Inmet prevê cerca de 120mm a 160mm de chuva, mas até ontem havia chovido apenas metade dessa quantidade.
Apesar de a estiagem não ter provocado mortes, os prejuízos, especialmente dos pequenos produtores, são imensos. É o caso da Associação Ribeirense de Produtores de Alho, na Paraíba, que teve prejuízo de cerca de 70% da produção - correspondente a 30 toneladas. O quilo, vendido a R$ 7 para comerciantes da capital do estado, representaria um lucro de R$ 301 mil. No entanto, os produtores da associação devem receber pela safra apenas R$ 90 mil.

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