segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Por um jeans que gaste menos ÁGUA


O que a Levis e outras empresas americanas estão fazendo para reduzir o consumo - e garantir a própria sobrevivência
Leslie Kaufman - THE NEW YORK TIMES

Do algodoal na Índia ao cesto de roupa suja local, uma típica calça jeans consome 3.480 litros de água durante seu ciclo de vida, diz a Levi Strauss, o suficiente para encher cerca de 15 banheiras de spas.
Isso inclui a água que entra na irrigação da plantação de algodão, na costura da calça e na sua lavagem inúmeras vezes em casa. A companhia quer reduzir esse número - e não só para projetar responsabilidade ambiental.
Ela teme que a escassez de água causada pelas mudanças climáticas possa colocar em risco sua própria existência nas próximas décadas ao tornar o algodão demasiado caro ou escasso.



Portanto, para proteger seus lucros, a Levis ajudou a capitanear um programa sem fins lucrativos que ensina agricultores na Índia, Paquistão, Brasil e na África Ocidental e Central as mais avançadas técnicas de captação de água da chuva e irrigação.
Introduziu uma marca com brim desbotado amaciado com pedras, mas não com água. E está costurando etiquetas em todos seus jeans conclamando os consumidores a lavarem menos o produto.
As preocupações com conservação não se limitam às gigantes de vestuário: conglomerados de alimentos e bebidas, empresas de tabaco e companhias de mineração e metalúrgicas estão começando a admitir sua pesada dependência de água. A Pepsico, por exemplo, adotou um método de desinfetar garrafas plásticas com ar purificado em vez de água em uma fábrica na Geórgia.
Enchentes. A ameaça de escassez de água foi trazida para a Levis em 2010, quando enchentes no Paquistão e campos esturricados na China destruíram culturas de algodão e fizeram os preços disparar. A companhia usa cerca de um quilo de algodão em cada calça fabricada.
Upmanu Lall, diretor do Columbia Water Center do Instituto da Terra da Universidade Colúmbia, disse que as implicações locais das mudanças climáticas ainda estão sendo elaboradas, mas que "a agricultura, que funciona melhor com um suprimento relativamente consistente de água, será a mais impactada".
Muitos grandes produtores, como a Índia, que tem dezenas de milhares de pequenos plantadores de algodão, não têm reservatórios para armazenar água, elevando o risco de escassez.
As companhias com operações no exterior também estão às voltas com custos crescentes de água ou com água não suficientemente limpa. Também há a ameaça de má publicidade se uma corporação for pega desperdiçando a preciosa água local.
Não passa despercebido para fabricantes americanos e europeus que o algodão já compete com os grãos pelas terras aráveis, uma tensão que certamente aumentará na medida em que o mundo terá de alimentar sua população crescente nas próximas décadas.
Como o algodão é cultivado em geral por uma rede difusa de agricultores bem pequenos em mais de 70 países, estimular práticas de uso eficiente da água é um desafio e tanto. O cultivo do algodão é responsável por mais de 3% do uso de água na agricultura e6%de todas as compras de pesticidas.
Em 2005, organizações da indústria do algodão e outras não governamentais, junto com grandes companhias de varejo, como Ikea, Gap e Adidas, fundaram a organização internacional sem fins lucrativos Better Cotton Initiative para promover a conservação da água e reduzir o uso de pesticidas e as práticas de trabalho infantil no setor. A Levis aderiu em 2009.
Um estudo independente de três anos sobre fazendas indianas revelou que as que estão adotando as técnicas reduziram o uso de água e pesticidas numa média de 32%, segundo a iniciativa. O lucro foi20%mais alto que o de um grupo de controle que usou métodos tradicionais.
Kailash Mahall e cultiva algodão em Shelu, cerca de 150 quilômetros a leste de Mumbai, na Índia. Em um lado de sua fazenda de seis hectares, que era usado para comparar métodos, os pés de algodão são cercade30 centímetros mais altos e dão mais flores que os do outro lado.
O campo mais vistoso tem um sistema de irrigação por gotejamento - um emaranhado de veias de plástico que direciona a água para o sistema de raízes de cada planta - que foi instalado por recomendação da Better Cotton.
Os apagões de energia, um problema comum na Índia, são menos preocupantes agora porque a irrigação por gotejamento não requer, como os métodos tradicionais, eletricidade por um extenso período. "O primeiro leva três horas; o outro, três dias", disse Mahalle. Seu uso da água caiu cerca de 70%.
Meta. A safra resultante dos novos métodos de cultivo é chamada agora de "algodão melhor". Os dirigentes da Levis dizem que cerca de 5% do algodão usado nos dois milhões de calças jeans que a companhia enviou para lojas neste outono americano foram cultivados pelo método sustentável.
A companhia quer elevar essa porcentagem para 20% até 2015. A Ikea, cadeia fabricante de móveis, espera usar exclusivamente "algodão melhor" em 2015. A fabricante de calçados Adidas disse que fará o mesmo até 2018.
Para alcançar a meta de 20%, a Levis diz que precisa mudar radicalmente a maneira como faz negócios, envolvendo-se mais diretamente com fornecedores e fazendeiros.
Houve um tempo em que as corporações americanas preferiam não saber o que se passava em suas fábricas no exterior.
Assim, elas poderiam alegar com convicção desconhecimento da situação quando más práticas de trabalho ou ambientais fossem descobertas.
Em uma manhã recente na sede da Levi Strauss em San Francisco, executivos estavam tentando imaginar como capitalizar melhor seus esforços pela conservação de água. Após ser informada sobre a iniciativa do algodão pela equipe de sustentabilidade, a nova diretora de marketing, Rebecca Van Dyck, aprovou com um gesto de cabeça, depois perguntou: "Mas nossos consumidores sabem?" A companhia não revela números de vendas para produtos individuais, mas diz que os jeans que foram comercializados neste ano como "menos gastadores de água" venderam mais depressa que os normais da mesma faixa de preço. A Levis começará a divulgar seu comprometimento com o algodão melhor em vídeos em seu site e em conferências sobre sustentabilidade. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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