quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Reciclagem de veículos ainda engatinha no Brasil


A vida útil de um carro no Brasil está entre 10 e 20 anos. Depois disso ele vai para...qualquer lugar onde pode-se jogar um amontoado de lata e ferro. O problema é que a frota brasileira já está em cerca de 65 milhões de veículos, segundo o Denatran. Os automóveis são responsáveis por 57% deste total. E a coisa continua crescendo. Em julho foram colocados nas ruas do país, mais de 306 mil veículos novos.

O destino mais comum dos carros velhos é o ferro-velho. Especialistas dizem que este é um caminho errado, pois o correto seria a reciclagem. Aquele amontoado de lata pode se transformar em material valioso e até voltar às ruas como partes de novos carros. A engenharia reversa para veículos é realidade nos Estados Unidos, Japão e na Europa. No caso dos países europeus, as próprias montadoras são responsáveis por reutilizar os componentes dos carros. No Brasil, a reciclagem de veículos ainda engatinha, principalmente porque não há legislação específica exigindo o processo. Como não há obrigatoriedade, os veículos acabam sendo descartados em desmanches e depósitos, ficando expostos ao tempo e perdendo a possibilidade de terem suas peças reaproveitadas.

O Brasil é um dos primeiros colocados em reciclagem de alumínio, papel e vidro, mas apenas 1,5% da frota brasileira que sai de circulação vai para a reciclagem, segundo estimativa do Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa e Não-Ferrosa (Sindinesfa). O oposto ocorre nos Estados Unidos e Europa, onde o reaproveitamento dos carros chega a 95%.

O presidente do Instituto Brasileiro para o de Desenvolvimento Sustentável (IBDS), Carlos Renato Garcez do Nascimento, avalia que, além da falta de legislação específica sobre a questão, outro obstáculo para a consolidação de uma cultura de reciclagem de veículos no País é a ausência de empresas especializadas nesta atividade. Um problema que já deixou de existir na nossa vizinha Argentina, onde um centro de reciclagem é exemplo bem-sucedido de tratamento de veículos fora de uso, produzindo peças a partir do desmanche legalizado de 250 automóveis por mês, reaproveitando 25 mil peças desde 2005 - autopeças que, de outra forma, acabariam formando montanhas de lixo poluente , destaca.

Para Garcez do Nascimento, uma reciclagem de veículos sistêmica e consistente teria um impacto significativo no mercado automotivo. A possibilidade de contar com peças recicladas, a um custo menor que o das peças novas, permitiria uma situação mais atraente para a manutenção de veículos mais antigos, ou ainda no desenvolvimento de um seguro de automóveis diferenciado - ou seja, um seguro popular/verde/ecológico, pelo qual peças recicladas poderiam ser aplicadas no reparo, viabilizando o custo para modelos mais antigos e ampliando a frota segurada , sugere. Levantamento do Sindinesfa aponta que os veículos correspondem a uma pequena parte de um montante de 7,8 bilhões de toneladas mensais de sucata produzidas no País, um mercado que movimentou nos últimos anos cifras acima de R$ 3 bilhões. Ainda conforme o sindicato, um automóvel pode ter de 30 a 50 mil peças, das quais 75% são de ligas metálicas.

Estudos da entidade avaliam a vantagem econômica de reciclar os veículos, um incentivo àqueles que fazem da reciclagem um negócio muito lucrativo. A movimentação do mercado de consumo formal, por meio da venda de peças reutilizáveis, receberia um significativo incremento com o reaproveitamento. O ganho para o meio ambiente seria a redução da poluição, por meio da remoção e destinação dos componentes considerados perigosos, como baterias e fluidos.

O sindicato também destaca a responsabilidade social da reciclagem: o aumento de empregos, já que a tendência é que novas empresas se estabeleçam para atender a demanda gerada. Até mesmo o segmento da saúde teria seu lucro: o processo combateria a proliferação do mosquito da dengue, uma vez que os carros abandonados a céu aberto contribuem para o armazenamento da água proveniente de chuvas.

O Detran do Rio Grande do Sul é um dos pioneiros na reciclagem de sucatas e veículos abandonados nos depósitos da autarquia. No primeiro semestre deste ano, foram reciclados em todo o estado, como materiais inservíveis, 4.268 veículos. A previsão para o segundo semestre é efetuar a destinação correta de aproximadamente 3,7 mil. O processo de reciclagem dá conta, em média de 80 veículos por dia. Para cada quilo de materiais reciclados, o governo gaúcho recebe R$ 0,19 - e cada compactação gera até 350 quilos de material.

A reciclagem acontece em três momentos: descontaminação, compactação e trituração, sendo a primeira e segunda executadas no pátio dos centros de remoção e depósito e, a última, na empresa siderúrgica Gerdau, vencedora da licitação para o serviço. Na descontaminação, são retirados do veículo bateria, cilindro de gás (combustível), catalizador e fluídos (óleo e combustível). Tanto a estação de descontaminação, quanto a unidade de compactação são itinerantes e podem se deslocar por todo o Rio Grande do Sul. Na compactação, o veículo é colocado em uma prensa para reduzir o seu volume, facilitando o transporte, e para descaracterizá-lo, de forma a impedir qualquer reuso de peças. Já na trituração, o veículo compactado é colocado em equipamento especial para ser triturado e ter separado o material ferroso, que será então encaminhado à reciclagem.

Dono da maior frota do País, com algo em torno de 21,7 milhões de veículos registrados, São Paulo também estuda a implantação de programa oficial de reciclagem de automóveis. A ideia foi divulgada em fevereiro deste ano, pela Secretaria do Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia. A proposta de criação de centros de reciclagem vai possibilitar o esvaziamento dos pátios do Detran paulista, onde existem milhares de veículos apreendidos, além de permitir a renovação da frota.

Para contribuir com o debate sobre a reciclagem de veículos e de outros resíduos sólidos, será realizado em Curitiba, nos dias 5, 6 e 7 de outubro, o maior evento nacional na área. O Sustain Total - Brazil Waste Summit integra uma rede de feiras internacionais de resíduos sólidos (Reino Unido, Dubai, Coreia do Sul e Estados Unidos), com o objetivo de integrar parceiros estratégicos e compartilhar soluções entre os continentes, além de fomentar a discussão sobre as questões abordadas na Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Promovido pelo IBDS (Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), o evento traz as principais tecnologias e modelos de gestão de resíduos sólidos de países líderes da Europa, América e Ásia. A feira reúne as principais soluções e equipamentos a setores produtivos, empresas públicas e governos municipais, de forma a contribuir para uma melhor elaboração, desenvolvimento e gerenciamento dos planos municipais. O encontro conta com uma programação completa de painéis de debates, reunindo mais de 50 palestrantes, sobre 24 temas relacionados à gestão de resíduos sólidos. A importância da reciclagem de veículos foi destacada pelo coordenador de reciclagem da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Henio De Nicola. De acordo com ele, produzir meios de transporte econômicos e com baixas taxas de emissões de CO2 é palavra de ordem, atualmente, em todas as montadoras do planeta, pressionadas pela dependência do petróleo, ameaça das mudanças climáticas e novos hábitos dos consumidores.

Como veículos mais leves consomem menos combustível e são menos poluentes, substituir materiais pesados pelo alumínio, um terço mais leve que o aço, nas linhas de montagem, é alternativa eficaz e viável para responder a essa meta. Só o alumínio é leve e resistente ao mesmo tempo e já oferece equipamentos e tecnologias para todas as aplicações automotivas e de transportes , assegura.

De Nicola cita um estudo realizado pelo International Aluminium Institute (IAI), que aponta que a cada quilo de alumínio usado em substituição ao aço, ao ferro fundido ou ao aço de alta resistência, cerca de 15 a 20 quilos de emissões de gases de efeito estufa são poupados por componente, a depender do caso.

Fonte: Portal Ecoinforme - Online

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