segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Projeto sustentável une preservação e uso da floresta amazônica em Mato Grosso


Representantes indígenas e quilombolas de Mato Grosso do Sul, Pará, Amapá, Roraima e Acre conheceram iniciativas de geração de renda a partir do uso sustentável de florestas na Amazônia. As ações, realizadas por índios rikbaktsas e comunidades de agricultores e extrativistas em Mato Grosso, mantêm as matas em pé e geram alimento e renda. O encontro foi uma das últimas atividades do Projeto de Conservação e Uso Sustentável das Florestas do Noroeste do Mato Grosso, realizado desde 2001 pelo PNUD em parceria com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).



O objetivo da visita, segundo Carlos Castro, coordenador da Unidade de Meio Ambiente do PNUD, foi promover intercâmbio de conhecimentos entre povos tradicionais e pequenos agricultores sobre diferentes maneiras de produzir comida, remédios, madeira e borracha e, ao mesmo tempo, conservar a floresta. A troca de experiências e saberes entre diferentes culturas é fundamental para estabelecer e aprimorar práticas sustentáveis.

"Os participantes ficaram muito interessados em saber que existe a possibilidade de ter uma boa renda mantendo a floresta de pé", disse Paulo Nunes, coordenador de algumas das atividades que foram apresentadas. As ações realizadas, segundo ele, chegam a ser mais rentáveis que pecuária intensiva e monocultura de grãos, além de terem impacto ambiental menor.

Os representantes de povos tradicionais ficaram animados em reproduzir as experiências dos municípios mato-grossenses de Juruena, Cotriguaçu e Juína. "Eles disseram: é possível fazer o que vocês fizeram. O que precisamos é nos organizar", contou Nunes. "Ao invés de um técnico falar que essas experiências podem dar certo, os próprios povos tradicionais falaram de dentro de atividades que já estão dando certo. Isso faz toda diferença", destacou Plácido Costa, responsável por uma das ações visitadas.

Entre 5 e 8 de junho, representantes das populações tradicionais acompanhados de técnicos do PNUD e professores da Universidade de Brasília conheceram viveiros de mudas amazônicas, áreas de extração de borracha e castanha, fábricas de palmito e castanha e sistemas agroflorestais.

Um dos produtores que lançam mão desse sistema é José Ramos, que começou há 30 anos produzindo café, mas atualmente investe no gado leiteiro consorciado com ipê, seringueira, cupuaçu e castanha-do-pará, e também cultiva pupunheira, cana-de-açúcar, teca, coco e piscicultura. Já Helmut Raimann, que há dez anos abandonou o uso de agrotóxicos, mantém castanha-do-pará, pupunheira e cupuaçu, além de plantar mandioca, arroz, gergelim e feijão andu. Ao todo, tem cerca de 70 pés de castanheira e 3.500 pés de pupunheira, de onde vem sua principal fonte de renda.

No sitio do Luizão, agricultor parceiro do projeto, os participantes do intercambio conheceram uma área de 15 hectares com mais de 60 espécies. Tomaram contato aspectos do manejo da agrofloresta, e também com técnicas silviculturais, como a poda de arvores e o enxerto de castanheiras.

Os visitantes também foram a associações que industrializam e vendem produtos da Amazônia. No assentamento extrativista Vale do Amanhecer, em Juruena, a Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia (AMCA) e a Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam) compram castanha-do-pará, extraída pela comunidade de assentados ou pelos rikbaktsas, e beneficiam o produto. A Coopavam, por exemplo, deve atingir uma produção de 90 toneladas neste ano. Entre os compradores, que chegam a pagar R$ 16 por quilo, estão empresas de alimentos e cosméticos, como a Natura. Também são feitos biscoitos servidos na merenda escolar dos municípios da região. Outra experiência bem-sucedida é a exploração de látex pelos rikbaktsas, iniciada em 2006. Os índios têm parceria com a Pneus Michelin, que adquire toda a produção de borracha da região.

Os organizadores acreditam que a troca de experiências entre povos tradicionais poderá estimular a propagação de atividades de desenvolvimento sustentável. Os cinta-larga da região se inspiraram nos rikbatktsas e estão deixando de explorar madeira para reativar seringais. Os indígenas de Mato Grosso do Sul, cujas terras são muito desmatadas, perceberam que têm uma série de problemas comuns e que "a solução passa por aglutinar parceiros e estabelecer mutirões de pessoas e instituições", diz Costa. Já os quilombolas, do Pará, pretendem tirar lições das cooperativas de Mato Grosso para montar sua própria associação de exploração sustentável da castanha.

O diálogo e a troca de conhecimento entre as diferentes etnias (guaranis, kaiowás, wai wai, galibis, wapichanas, macuxis, karipunas, cinta-largas e zorós) já se refletiu nas demandas e ações propostas para dois projetos apoiados pelo PNUD em parceria com a FUNAI: o projeto de Gestão Ambiental em Terras Indígenas e o Programa Conjunto de Segurança Alimentar e Nutricional de Mulheres e Crianças Indígenas no Brasil.

Na avaliação do PNUD, o projeto, que termina neste ano, atingiu os resultados esperados de apresentar alternativas viáveis ao desmatamento, buscando compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação da biodiversidade. É fundamental agora que essas comunidades indígenas, os assentados e os pequenos agricultores tenham acesso a credito e assistência técnica adequada.

Fonte: COEP Brasil

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