quinta-feira, 28 de julho de 2011

Os números do prejuízo do caos ambiental


Cada mês de chuva em excesso equivale a perdas de R$1,3 bilhão, segundo pesquisa da Fiesp
Renato Grandelle renato.grandelle@oglobo.com.br
SÃO PAULO. Natureza em fúria, prejuízos recordes. A tabelinha tem se repetido com frequência crescente mundo afora - e o Brasil, infestado de metrópoles de crescimento desordenado, já conta com seus exemplos. Somente este ano, as inundações apuradas pela resseguradora Swiss Re no Rio, em São Paulo e em Minas Gerais causaram perdas estimadas em R$1,9 bilhão, uma quantia quatro vezes superior à média registrada nos últimos anos.

 
Não há sinais de que a enxurrada - de chuva ou recursos desperdiçados - seja menor daqui para frente. As projeções climáticas são unânimes em anunciar um Sudeste cada vez mais úmido nas próximas décadas. O risco de tempestades fez a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) consultar 478 empresas sobre as suas perdas. De acordo com o levantamento, cada mês de chuva em excesso equivale a perdas de R$1,3 bilhão. Os índices foram apresentados e debatidos ontem no Fórum Internacional de Seguros para Jornalistas, promovido pela Allianz Seguros em São Paulo.
Os eventos extremos fazem o país pagar a conta pela urbanização sem planejamento vivida nas últimas três décadas. Em 1950, 26,2% da população brasileira vivia nas cidades. No ano passado, este índice atingiu 84,3%.
- O que levou mais de um século na Europa, aconteceu aqui em poucas décadas - destaca Ricardo Ojima, pesquisador do Núcleo de Estudos de População da Unicamp. - Nesta velocidade, era impossível identificar áreas de risco ou conduzir uma urbanização planejada. Hoje, este fenômeno está mais estável, o que possibilitou o aparecimento de políticas públicas.
Os projetos governamentais, no entanto, ainda deixam a desejar. Muitas prefeituras ignoram a orientação de investir em medidas preventivas para contenção de encostas ou outros planos que serviriam de escudo contra eventos climáticos extremos. Em vez disso, estes municípios preferem esperar que a situação se torne emergencial para contar com aportes generosos de recursos da União.
- Hoje investe-se em inventários de emissões, políticas que estabelecem metas para liberação de carbono. Mas ninguém sabe quanto desses planos realmente saem do papel - ressalta Ojima. - Por isso, é preciso também discutir adaptação.
A aposta em urgências ou ter olhos só para programas com resultados a longo prazo é arriscada. Medidas de curto e médio prazo devem ser implantadas para evitar um futuro ainda mais problemático.
Basta conferir os dados fornecidos pelo governo federal ao Programa Habitat, da ONU, em 2005. As 16.433 favelas do país concentravam, à época, 52,3 milhões de pessoas - o equivalente a 28% da população. Estas comunidades são os maiores símbolos da falta de planejamento urbano e da vulnerabilidade a eventos extremos. E a projeção é que, em 2020, seus moradores sejam ainda mais numerosos - contingente que ultrapassará os 55 milhões.
- A ocupação territorial é desordenada, as leis não são seguidas. Estamos sempre correndo atrás, em vez de nos anteciparmos - condena Maria Luisa Castello Branco, coordenadora de Geografia da Diretoria de Geociências do IBGE. - Não é um problema de legislação, isso nós já temos o suficiente. O que falta é promover no cidadão comum um comportamento sustentável.
Além da falta de planejamento urbano - e de quantos estão sujeitos a ele -, o próprio perfil demográfico do país chama atenção. Quanto mais pessoas, maior é a emissão de carbono e a sujeição às mudanças climáticas. A população brasileira continuará crescendo até 2040, quando atingirá 219 milhões; depois, passará a apresentar crescimento negativo, mas isso não significa que chegaremos a uma solução.
- A solução passa pela mudança de nossa forma de viver. Usar transporte público em vez de carro, por exemplo. São pequenas adaptações que exigem algum esforço, mas fazem a diferença - lembra Ojima.
O repórter viajou a convite da Allianz Seguros


Fonte: O Globo

Um comentário:

Cherry disse...

ah, sim... desordem é com a gente mesmo. é melhor ficar fazendo remendo nas coisas que começaram erradas do que fazer as coisas certas... lamentável