terça-feira, 2 de março de 2010

A auditoria no IPCC, do clima

IPCC deve ter pesquisador com dedicação exclusiva

Alvo de críticas, painel do clima tenta manter confiança nos relatórios; atualmente, cientistas são voluntários

Afra Balazina

Uma das propostas de cientistas para evitar novos erros em relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) é formar um pequeno grupo de pesquisadores para se dedicar exclusivamente ao órgão. Atualmente, os cientistas são voluntários.


O IPCC não faz pesquisas, somente avalia estudos já publicados. Mas o painel do clima das Nações Unidas, que chegou a ganhar o Prêmio Nobel da Paz em 2007, passa por uma crise depois que erros foram apontados em seu quarto relatório.

Um dos problemas foi incluir em um dos textos que as geleiras do Himalaia poderiam desaparecer até 2035. O IPCC admitiu, neste ano, que a informação está mal fundamentada cientificamente. Dados de textos da organização WWF acabaram sendo incluídos, por exemplo, o que não é aceitável.

Hoje haverá uma reunião em Oxford em que os procedimentos para garantir a qualidade do próximo relatório do grupo serão discutidos. Uma das questões que estão sendo discutidas é o fato de o trabalho do IPCC ser voluntário. Na época que eu estava tocando um dos capítulos, meu co-chair era um pesquisador japonês da Honda. Ele tinha uma porção de estagiárias ajudando. No meu caso eu era só eu, eu e eu mesma, afirma Suzana Kahn, secretária nacional de Mudanças Climáticas.

Segundo ela, a infraestrutura dos países em desenvolvimento é muito diferente dos ricos. Os países desenvolvidos liberam o cara para fazer o trabalho, colocam gente para ajudá-lo. Em sua opinião, deveria ter um grupo menor de cientistas que se dedicasse de forma exclusiva e lesse o relatório todo.

Segen Estefen, professor da COPPE/UFRJ, concorda. A revisão (das informações incluídas no relatório) deve ser baseada no maior profissionalismo possível. Sugiro que revisores externos, especialistas no assunto, sejam selecionados com base num critério a ser estabelecido e aprovado pelo IPCC, com ampla divulgação.

COMO FUNCIONA

Depois que um grupo de autores do IPCC escreve sua parte do relatório, o texto circula pelo mundo e recebe comentários e críticas de revisores. Todos os comentários devem ser respondidos um a um.

Para Vicky Pope, do Met Office (serviço meteorológico do Reino Unido), em um relatório de 3 mil páginas alguns erros são inevitáveis. Mas ela ressalta que as falhas devem ser corrigidas para que a credibilidade do painel seja mantida. As principais conclusões do quarto relatório do IPCC são confiáveis, completa.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100301/not_imp517540,0.php Do Estadão.com.br

Painel passará por auditoria

Afra Balazina

A ONU pretende adotar uma espécie de auditoria externa para avaliar os procedimentos do IPCC. Em nota, o presidente do painel, Rajendra Pachauri, afirmou anteontem que reconhece as críticas que têm sido feitas e a necessidade de respondê-las.

Um comitê independente de especialistas avaliará os procedimentos e indicará se devem ser feitas mudanças. A proposta de criação da comissão foi comunicada em 16 de fevereiro e discutida em Bali na semana passada. José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), comemorou a intenção de ter uma auditoria. Parece uma ótima ideia, pois assim todos vão ver a integridade do IPCC, disse.

Uma das questões que devem ser analisadas pelos auditores é o uso da chamada literatura cinza. Segundo Marengo, ela consiste em artigos em jornais, relatórios técnicos de ONGs ou de governos que não passaram pela revisão de cientistas.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100301/not_imp517541,0.php?target_url=http%3A%2F%2Fdigital.estadao.com.br%2Fhome.asp

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