Uma cidade que não consegue oferecer conforto e segurança para que pessoas perfeitamente normais possam se locomover, não conseguirá fazer nada por pessoas portadoras de restrições ao movimento
Por Dal Marcondes
Os debates sobre a mobilidade em São Paulo estão tomando rumos cada vez mais apaixonados. O Estado busca desesperado por alternativas em sua cartilha tradicional, abrir novas avenidas, ampliar espaços para automóveis, construir mais estações de metrô e oferecer mais corredores de ônibus. Algumas destas opções estão em linha com uma mobilidade contemporânea, outras mostram que os gestores ainda precisam se atualizar. Um exemplo, em minha opinião, é o completo descompasso que há entre as necessidades da cidade e a ampliação das faixas da Marginal do Tietê, que impactam fortemente na já comprometida capacidade de vazão do Tietê, promovendo um substanciam aumento na impermeabilização da cidade.
Eu preferia ver ampliada a linha de trem que percorre a Marginal do Pinheiros e poder seguir confortavelmente em vagões com ar-condicionado e música ambiente do bairro de Santo Amaro, na Zona Sul, até o Parque Tietê, USP Leste e Aeroporto de Guarulhos. Mas isso, ao que parece, não está nos planos dos gestores, que acreditam piamente que podem acompanhar o ritmo alucinante de vendas da indústria automobilística, que apenas em São Paulo significa cerca de 100 mil novas unidades por mês, apenas de veículos de passeio. Aliás, como o próprio nome diz, deveriam ser utilizados apenas para passeio, dando prioridade à mobilidade urbana através de transporte público.
Calçadas & Cidadania
No entanto, quero tratar neste texto de uma outra forma de mobilidade, mais prosaica ainda, e que poderia ajudar em muito a redução do trânsito na cidade. A capacidade de se mover pelas calçadas. Hoje as calçadas de São Paulo, que receberam um pequeno alento no ano passado com um programa de revitalização da Prefeitura para algumas ruas, estão abandonadas. Nos bairros é praticamente impossível transitar por calçadas por conta de buracos, falta padronização e são muitos os obstáculos que impedem a mobilidade normal. Desde degraus instalados sem nenhum critério técnico, passando por inclinações feitas para dar acesso a automóveis às garagens, lixeiras mal instaladas, árvores desproporcionais aos espaços de calçadas e, por fim, automóveis e motocicletas estacionados sobre as calçadas.
Para que as pessoas deixem de andar com seus automóveis é preciso que o ato de caminhar até o ponto de ônibus ou metrô seja confortável e seguro. O que efetivamente não é. Não é possível imaginar que as pessoas que tem carro vão abandonar este conforto por uma opção desgastante de caminhar entre lixo e buracos. No entanto, é seguro supor que aumentaria a vantagem do transporte coletivo se as calçadas fossem padronizadas, espaçosas, sombreadas com árvores bem localizadas e com bancos instalados a intervalos regulares para que pessoas idosas, carregando sacolas ou crianças pudessem recuperar o fôlego por alguns minutos.
Fala-se muito em ciclovias inexistentes, na necessidade de implantá-las. Pois as calçadas já estão aí. A prefeitura precisa apenas ter a vontade política de fazer valer as leis sobre manutenção de calçadas. Convocar proprietários para um grande mutirão de recuperação destes espaços públicos e fazer valer os direitos de cidadania de quem quer parar de usar o carro e caminhar em direção a um futuro mais sustentável. (Envolverde)
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