Por Karina Miotto *
Preciso dizer que adorei o apagão. Que foi incrível ver tudo escuro na cidade. Até ontem eu não tinha ideia do quanto a eletricidade provocava sons: televisores, rádios, computadores, música, gente falando...
Como foi bom ouvir o silêncio. Dirigir sobre a ponte que leva à minha casa dando aquela espiadinha para o lado e só enxergar a escuridão. Cheguei atenta: tinha a triste certeza de que gente que ainda não compreendeu a importância de cultivarmos a solidariedade provavelmente atacaria os indefesos ou distraídos - e foi o que ocorreu. Fico me peguntando qual será a reação do bicho homem quando ele tiver que se virar de novo sem o conforto de luz, água quente, micro-ondas, músicas...
Quando estacionei na garagem, fiz questão de não acender as luzes do celular para encontrar a chave e abrir a porta: sinto necessidade de treinar minha vista para enxergar no breu. Subi as escadas, cheguei ao meu quarto, abri a janela. Respirei fundo com contentamento. Diante da falta de eletricidade, a enlouquecida São Paulo adquiriu o silêncio e a aparente calmaria de uma cidadezinha de interior. Tomei banho gelado. Estava tão divertido.
Antes de cair na cama, olhei de novo pela janela (não quis fechá-la). Um sorriso de contentamento escapou do meu rosto quando percebi, pela primeira vez nas redondezas, um vaga-lume. Foi tão bom vê-lo se destacar entre o preto da paisagem. A vida é simples e tão bonita. Respirei fundo. Deitei feliz.
* Karina Miotto é jornalista, palestrante sobre a Amazônia e autora do blog Edo-Repórter-Eco (www.ecoreportereco.blogspot.com). Para falar com ela: ecoreportereco@yahoo.com.brpost
Um comentário:
Bucólica a percepção sobre o apagão. Lemmbro-me de um exercício de meditação, onde deveria-se ficar por algumas horas de olhos vendados, percependo-se o quão importante é aluz e sua consequente visão. Será que o apagão (ou os apagões) permitiram aos cidadãos perceber que não podemos ser tão dependentes de uma matriz energética? Temos planos B, C, D, etc. para a comum vida cotidiana sem a Eletrobrás?
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