quinta-feira, 23 de julho de 2009
Sustentabilidade: um olhar para fora...
Por Dal Marcondes, da Envolverde
Muita gente ainda não compreende o que é sustentabilidade e porque deveria mudar seu modo de vida. A sociedade certamente não vai empreender as transformações necessárias se não estiver convencida da urgência das mudanças.
Dias atrás estava conversando com um bom amigo, que não trabalha nem com comunicação e nem com meio ambiente e sustentabilidade, sobre carros, trânsito e modelo de desenvolvimento. Ele vive em Santos, uma cidade que eu adoro por ser, ainda, uma boa referência em estrutura urbana. Depois de 15 minutos de conversa percebi que estamos em lados completamente opostos em relação ao que seja uma vida confortável e sustentável. Comentei que se Santos continuasse a receber automóveis no ritmo atual, em muito pouco tempo estaria completamente engarrafada, com os mesmo problemas de mobilidade que São Paulo já enfrenta.
Santos é uma cidade plana, pequena sob o ponto de vista territorial, concentrada em temos de ocupação. Ou seja, ideal para trajetos a pé, de ônibus e de bicicleta, sem falar de um tal VCL (Veículo Leve Sobre Trilhos) dos qual se fala desde que o Mário Covas era governador (ele também um santista). Minha surpresa veio quando meu amigo simplesmente respondeu que esse era um preço a ser pago pelo conforto. De pronto perguntei, “mas que conforto?”
Em minha visão de jornalista especializado em temas ligados à sustentabilidade, conforto é uma cidade onde a mobilidade é garantida através de meios que não imponham mais poluição e nem ocupação desordenada das ruas. Transporte público, espaços abertos, bicicletas e uns poucos carros que são usados apenas por necessidade absoluta. Argumentei que andar de táxi, por exemplo, pode ser muito mais barato do que andar de carro. Não se corre o risco de levar multas, não é preciso pagar estacionamento e nem sequer é preciso se preocupar com tomar um chopp a mais.
Por mais que eu tentasse explicar as vantagens individuais e coletivas em ter uma cidade com menos carros e mais espaço para as pessoas, meu amigo não conseguia entender. Para ele eu devo ter parecido uma espécie qualquer de idiota que não entende o quanto um carro oferece de conforto. Claro que compreendo isso, eu mesmo tenho um carro. No entanto, a questão é como usamos o carro e para que. Por exemplo, se locomover para um escritório, pagar um estacionamento e retornar no final do dia é uma atividade que pode muito bem ser feita de outra forma, principalmente em Santos.
Outra coisa que constatei, pela enésima vez, é o quanto as questões relacionadas ao meio ambiente, à sustentabilidade, aquecimento global etc estão longe das pessoas que não estão diretamente envolvidas com este tema. Certamente a culpa não é destas pessoas, mas sim das outras, aquelas que compreendem a importância de ser sustentável, mas que não estão conseguindo mostrar o quanto isso é importante para todo mundo.
Não se trata apenas de economizar água, energia, separar lixo para a reciclagem ou outras tantas atividades que são preconizadas nas cartilhas de educação ambiental. É preciso estimular o pensamento sustentável, que favorece um olhar mais sistêmico sobre a realidade. Mas como fazer isso?
Nos últimos anos temos trabalhado na Envolverde para informar e formar uma parte da sociedade sobre a transversalidade necessária na abordagem dos temas socioambientais e econômicos. Não estamos mais na fase dos diagnósticos. A maior parte dos problemas socioambientais graves que devem ser enfrentados com urgência pela sociedade já estão devidamente identificados, catalogados, estudados e diagnosticados, com suas causas e conseqüências exaustivamente conhecidas.
A questão agora é saber como convencer as pessoas a mudar. As milhões ou bilhões de pessoas mais afetadas pelos problemas sociais e ambientais não têm a capacidade de reação necessária para alterar a realidade de seu entorno. E as milhões ou bilhões de pessoas que precisariam mudar o modo de vida, ou simplesmente não sabem disso, ou não acham necessário, ou estão se lixando para os problemas.
A questão que se coloca é como conseguir que a sociedade entenda o sentido de urgência dos problemas ambientais, em especial do aquecimento global, do desmatamento e da degradação de ecossistemas, como fazer a atual geração de seres humanos no planeta compreender que deve existir uma “solidariedade intergeracional”, ou seja, que precisamos preservar recursos para as pessoas que ainda não nasceram (como prevê o triple bottom line).
Aqueles que compreendem esta urgência devem superar o sentimento de frustração que está se sobrepondo à necessidade de continuar falando, escrevendo, ensinando e pregando. Mas, principalmente, é preciso compreender que a grande maioria das pessoas ainda não está convencida, por muitos motivos, de que precisam mudar. (Envolverde)
* Dal Marcondes é diretor da Envolverde.
Últimos Comentários
Goretti Ramos (marigoretti@ig.com.br)
Olá Dal, tudo bem?
Você fez uma belíssima reflexão sobre o verdadeiro sentido da Sustentabilidade. Vejo a necessidade da educação ambiental como uma medida indispensável às mudanças de comportamento da coletividade. E nós temos uma legislação específica para tanto( Lei 9795/99), resta somente boa vontade aos governos no tocante à sua aplicabilidade na prática. Como profissional do ramo jurídico acredito que a conscientização da população quanto ao meio ambiente, como um direito fundamental que lhe é constitucionalmente garantido(art.225) é tão urgente quanto garantir-lhe o direito à vida, pois ambos estão perfeitamente interligados. A problemática das desigualdades sociais também é um grave fator pois geralmente as classes menos favorecidas sofrem mais com os danos ambientais, que em sua maioria são irreversíveis, fruto de um pensamento consumista que vê o meio ambiente como mero gerador de recursos, infelizmente!
Saudações ecológicas,
Professor Wílton Ferreira (catetohipotenusa@gmail.com)
Caro Dal, penso que as pessoas só vão se dar conta e se conscientizar sobre os graves problemas que estamos enfrentando, infelizmente, quando não houver mais jeito. Daí, todos dirão: "Que pena que não demos ouvidos aos que nos alertaram"!
Apesar de tudo, penso que vale a pena falar, gritar, alertar, porque o mais importante é nossa paz de consciência. Não é fácil mudar costumes.
Silvana Laynes - de Castro (decastro@onda.com.br)
Realmente, é frustrante o resultado das ações para a conscientização da sociedade em geral. Como arquiteta, trabalhando e pesquisando alternativas mais sustentáveis para a construção civil há mais de 20 anos, reconheço a pequena mudança de atitude de meus pares, inclusive. Como atingir as pessoas com maior poder de convencimento que, na verdade, nada mais é do que fazê-las perceber a realidade atual?
Élio J. B. Camargo (eliojbc@uol.com.br)
Sustentabilidade é principalmente não aumentar a superpopulação do planeta, que é a causa básica de todos os problemas citados. O planeta não aguenta esta sobrecarga da espécie. O homem que é especialista em limitar a reprodução dos outros animais, precisa limitar a sua.
O resto é efeito.
Nhô Gláu (belembr@gmail.com)
Ia justamente citar "a história das coisas"... não há duvidas de que um dos grandes problemas relacionado a quase todas as questões ambientais está no processo de comunicação. Eu penso que é mais importante dar prioridade para as crianças de forma intensiva e sempre... pois adultos quase nunca mudam e tem mais dificuldade em enxergar novos horizontes de comportamento, ao passo que se uma criança for instruída ao menos a usar a lixeira nas ruas e separar o lixo em casa já seria um começo.
www.flickr.com/photos/glauz
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