segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Empresas e o processo civilizatório


Olá, novamente passei uns dias sem escrever para o blog. Desta vez estava no interior de Minas Gerais, na pequena cidade de Barroso, onde uma grande multinacional do cimento, a Holcim, está apoiando um interessante projeto de “desenvolvimento local”. Vou escrever um texto mais detalhado sobre isto nos próximos dias. Já Posso adiantar que é um projeto com características bem interessantes em termos de melhoria da qualidade de vida de pequenas comunidades impactadas por grandes empresas. No caso não foi a implantação, uma vez que a fábrica de cimento existe desde os anos 70, mas o impacto da modernização industrial, que reduziu drasticamente os empregos para uma comunidade que vivia em função da fábrica.

Foi interessante conhecer o projeto, mas, também, foi importante para mim porque escrevi, dois anos atrás, um texto falando sobre “O papel civilizatório das empresas”. Neste texto disse que as empresas têm de fazer justamente o que a Holcim está fazendo, guardadas as devidas proporções, porque esta é uma empresa que está presente em 70 países e a experiência de Barroso ainda é laboratorial.
Vou republicar o artigo sobre o processo civilizatório e, nos próximos dias publico o que vou escrever sobre Barroso.

Boa leitura.
Dal Marcondes

Empresas e o processo civilizatório

Por Dal Marcondes

A cultura ocidental, que veio da Europa e colonizou as Américas, sempre teve seus vetores civilizatórios. No princípio foram as igrejas. Inicialmente a católica e depois também as igrejas protestantes, que tiveram um grande papel nos Estados anglo-saxônicos. Depois o processo passou para as mãos dos Estados Nacionais, com os processos coloniais e de formação de alianças. Centenas de guerras depois e com a maioria dos países do planeta envolvidos em problemas que não conseguem solucionar, como a eliminação da miséria, acesso universal à água, educação, saúde e trabalho, o mundo se vê em uma encruzilhada do processo civilizatório.

Existe uma diluição de responsabilidades e a incapacidade dos Estados em assumir mais compromissos. No entanto, cresce a importância das empresas e organizações no cenário global, como vetores de desenvolvimento e de sustentabilidade. Não uma sustentabilidade baseada nas leis, mas sim uma visão empresarial de compromisso com o desenvolvimento e com uma visão de perenidade que incorpora os conceitos de sustentabilidade em sua vertente econômica, ambiental e social.

O processo civilizatório global passou por uma verdadeira revolução na segunda metade do século XX. O primeiro evento realmente global da história da humanidade foi a Segunda Guerra Mundial, que envolveu países e povos de todos os continentes. Foi um desastre de proporções planetárias. No entanto, mudou o tamanho do mundo para sempre. As operações logísticas para abastecer as operações de guerra mostraram para as pessoas e empresas que não era tão impossível atender a mercados distantes.

Esta percepção de que os mercados estavam mais perto lançou centenas ou milhares de empresas na busca por consumidores, não importa onde eles estivessem, assim como as operações de produção também foram descentralizadas, de forma a ficar mais próximas das fontes de matérias-primas, energia ou mão de obra. Milhares de empresas nasceram a partir da segunda metade do século XX e iniciaram seus caminhos rumo ao mercado global. A grande maioria das empresas que hoje tem suas operações globalizadas surgiu neste período e até o final do século XX fizeram o que todas as crianças e adolescentes fazem: cresceram e ganharam músculos.

Os mercados globais foram construídos neste período e as empresas cresceram tateando seus limites. Foi, também, um período em que os Estados criaram os marcos regulatórios locais e globais para a atividade empresarial. Foi um período de embates ideológicos onde se discutiu a fundo o papel do Estado enquanto espinha dorsal da sociedade e seus limites na gestão dos recursos. O final do século XX chegou com empresas mais maduras, com o debate ideológico, a disputa entre o comunismo e o capitalismo, esvaziado e com Estados exauridos em sua capacidade de prover as necessidades básicas de suas populações.

A herança do século XX, no entanto, foi positiva sob o ponto de vista das leis e dos compromissos com o futuro. Governos avançaram, através de instituições multilaterais, como as Nações Unidas, a Organização Mundial do Comércio e pactos globais como a Conferência Rio 92, protocolos internacionais como Kioto, que regula a emissão de gases de efeito estufa, Montreal, que bane a utilização de gases que atinjam a camada de ozônio, Cartagena, sobre a biodiversidade e muitos outros. Os marcos regulatórios nacionais e internacionais sobre as atividades humanas e, principalmente, sobre as ações econômicas foram construídos e estão sendo aprimorados.

O novo século chega com desafios que precisam da profunda capacidade inovadora desenvolvida pela humanidade desde a revolução industrial. Esta versatilidade na abordagem de problemas que simplesmente não existiam uma centena de anos atrás é o que move o novo padrão civilizatório que deverá levar a humanidade a superar os grandes desafios globais. Alguns com a capacidade de destruir o atual modo de vida caso não sejam equacionados de maneira competente e dentro de parâmetros estritos de sustentabilidade. É um tempo de inovações e quebras de paradigmas.

As empresas que nasceram e cresceram no final do século XX, chegam agora a um momento de maturidade. Já ocuparam seus espaços e ganharam músculos. Agora, como todo adulto, buscam a perenidade. Não olham mais apenas para o balanço trimestral, mas sim para o lucro distribuído no tempo. Querem saber o que estarão fazendo dentro de 10, 20 ou 50 anos. Precisam pensar nas necessidades e desejos de consumidores cada vez mais exigentes não apenas em relação a qualidade e preço, mas também em relação ao planeta em que vivem e ao custo ambiental e social dos produtos que consomem.

E os investidores então. Estes buscam empresas sólidas, que possam dar segurança ao capital investido, sem aventuras ou passivos. Se alguns anos atrás apenas a má gestão financeira e comercial poderia quebrar uma empresa, hoje sabemos de passivos ambientais e sociais podem deixar máculas indeléveis em marcas globais. Algumas vezes tão profundas que a empresa não pode mais continuar existindo. Um exemplo disto foi a Union Carbide, que após sofrer um grande acidente em dezembro de 1983, na cidade de Bhopal, na Índia, que afetou cerca de meio milhão de pessoas e matou um número estimado em 27 mil pessoas. A empresa, uma das maiores, senão a maior, do setor na época, nunca mais se recuperou do golpe e acabou vendida para a Dow Chemical.

Muitos investigadores buscaram culpas e responsabilidades em relação ao acidente de Bhopal. Mas talvez o maior responsável tenha sido a arrogância da empresa em acreditar que tinha domínio absoluto de seus processos de produção e não adotou medidas de segurança adicionais. Mas, da tragédia também surgem lições e, hoje, empresas que prezam suas marcas e trabalham dentro de conceitos mais amplos de sustentabilidade, buscam tornar este tipo de acidente uma virtual improbabilidade. Não apenas respeitando limites impostos pelas leis, mas indo além, buscando formas de ação que possam dar efetivas garantias de que a sociedade e o meio ambiente não serão mais prejudicados pela irresponsabilidade e pela ganância.

As organizações que deverão caminhar com a humanidade para um futuro com menos desigualdades e mais qualidade de vida são, necessariamente, comprometidas com o tripé da sustentabilidade em seu sentido mais amplo. Quando a ex-primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland, entregou seu relatório “Nosso Futuro Comum”, encomendado pela Organização das Nações Unidas como parâmetro de sustentabilidade, em 1987, o que se esperava é que as empresas buscassem o lucro baseadas em critérios e leis de respeito ao meio ambiente e responsabilidade social. Trinta anos depois as empresas ainda estão trilhando este caminho e vão fazê-lo para sempre, porque a sustentabilidade não é uma meta, mas uma trilha, um Norte a ser seguido sempre e que apresentará todo o tempo novos desafios a serem vencidos.

Durante todos estes anos as empresas estão trabalhando na descoberta e desenvolvimento de novos paradigmas que levem à atuação sustentável, um caminho que começou no simples respeito às leis. Por volta dos anos 60 do século passado acreditava-se que uma empresa socialmente responsável era aquela que gerava empregos e recolhia religiosamente seus impostos. As organizações passaram a ter, também, uma ação filantrópica, onde realizava doações para projetos de benemerência e caridade. Mais tarde, o conceito de responsabilidade social ganhou Mais abrangência e a organização passou a considerar-se responsável por algumas externalidades de seus processos de atuação econômica. Mas só mais recentemente o conceito de sustentabilidade empresarial começou a ganhar fôlego. Mesmo assim muitas organizações ainda se debatem na construção ou entendimento do conceito e das diferenças existentes entre filantropia, responsabilidade social e sustentabilidade.

O que é Sustentabilidade?

De uma forma bem simples, pode-se dizer que os conceitos de filantropia e responsabilidade social existem a milhares de anos. Aliás, os dois conceitos estão descritos na Bíblia, e a sustentabilidade vai um pouco além:

Filantropia: É dar peixe a quem tem fome;
Responsabilidade Social: É ensinar a pescar;
Sustentabilidade: É cuidar da qualidade da água do rio, das matas ciliares, evitar a erosão e trabalhar para que nunca falte peixe no rio.

A trilha da sustentabilidade não tem fim e precisa de pioneiros que mostrem que vale a pena investir em ser cada vez melhor e mais competente na atuação econômica baseada na sustentabilidade. (Envolverde)

Um comentário:

Anônimo disse...

bom dia
hoje dia 02/05/09 eu Carlos Azevedo Junior li esta matéria e cheguei a seguinte conclusão lógica, nós seres humanos não presisamos de mais tecnologia para vivermos bem, as que já existe para nóssa comodidade e comforto já até ultrapassou nóssas necessidades, pois nos proximos anos para nosso conforto noque é isto que se baseia, a humanidade expressivamente necessitará do meio ambiente preservado para dar continuidade a nossa sobrevivencia neste Planeta Unico, não gastarmos nosssos recurços financeiros com buscas espaciais ilusionária, melhor seria aplicarmos todo este recurço em Nós em Nósso Planeta.
E as epresas com sertasa em sua maiori comessou atentar neste assunto em passos lentos no meu ponto de vista mas é com certesa um ótimo inicio porém precisamos apressar mais este prosseço, afinal sem o meio ambiente em vão trabalhamos pois seremos estintos.

obrigado e boa reflexão!!!