terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Fórum de Mídia Livre debate acesso da sociedade aos meios de comunicação

por Dal Marcondes

As pessoas e os movimentos sociais não precisam mais de intermediação para produzir conteúdos e utilizar meios de comunicação para fazer chegar suas mensagens à sociedade. Segundo Sergio Amadeu, da Faculdade Casper Líbero, o problema não está mais em falar, mas em ser ouvido. Ou seja, há mais de um bilhão de pessoas conectadas à internet em todo o mundo, com milhões de sites e blogs. A luta por esta audiência é feroz e a comunicação produzida de forma alternativa não consegue, ainda, a abrangência necessária para fazer frente, com uma mensagem diferente, aos grandes conglomerados de mídia.

No Fórum de Mídia Livre, que antecedeu o Fórum Social Mundial em um dia, em Belém, o debate em torno da comunicação ficou centrado na necessidade de acesso aos meios de comunicação pela sociedade como forma de democratizar a informação e o conhecimento. Pouco se discutiu sobre a existência de um jornalismo também comprometido com estes ideais, de levar informação de qualidade e com compromisso social. Uma parte importante dos participantes disse acredita que para existir uma mídia independente, ela deve ser autofinanciada. Isto quer dizer atuar, principalmente, com trabalhos voluntários.

Mesmo com algumas opiniões que indicam a necessidade de um equilíbrio entre o autofinanciamento e a busca de recursos públicos para manter as estruturas das mídias, não ficou muito claro como garantir para a sociedade informação de qualidade e independente e com profissionalismo jornalístico. Into tendo que, ao mesmo tempo, garantir a sobrevivência dos profissionais de comunicação que atuam nestas mídias.

Na minha opinião existem duas coisas distintas e que devem ser trabalhadas de forma conjunta e tendo respeitadas as características de cada uma. Uma coisa é a comunicação exercida pela sociedade e pelos movimentos sociais, que deve ter a maior liberdade e abrangência possível, com a livre utilização de meios como internet, radiodifusão, Tvs e impressos. Não deve haver legislação restritiva para esta comunicação, Mas sim o incentivo para o uso livre destes canais.

De outro lado, mas não antagônico, estão as mídias livres profissionais, feitas por jornalistas e que buscam levar para a sociedade um olhar diferente daquele das mídias tradicionais. Estes veículos, sejam eles de internet, rádio, TV ou Impressos, têm um papel importante na consolidação de informações e conhecimentos para as transformações que a sociedade e seu modo de produção e gestão precisam.

No Fórum de Mídia Livre houve uma inversão de valores neste caso e mídias que tem um papel relevante para a sociedade foram jogadas no mesmo cadinho que os grandes meios que controlam a comunicação no Brasil e no mundo. O fator de ser uma mídia profissional, com busca de recursos para manter seu corpo editorial e capacidade de brigar pela audiência de forma massiva não deve ser visto como excludente em termos de compromisso com a sociedade.

Alejandro Kirk, editor do Terra Viva, veículo que cobre todas as edições do Fórum Social Mundial e as grandes conferências da ONU, acredita que pode haver uma sinergia importante entre as duas vertentes de comunicação. “Os profissionais comprometidos com a transformação da sociedade podem ajudar as pessoas e organizações a produzir conteúdos de boa qualidade”, diz. Kirk alerta que esta é a forma de se conseguir público para as mensagens da sociedade. “A qualidade da apresentação também é parte da mensagem”, explica.

Um dos organizadores do evento, Renato Rovai, editor da Revista Fórum, disse que é justo buscar recursos públicos, uma vez que este dinheiro é da sociedade e deve ser aplicado em seus interesses. “Hoje nenhuma mídia tradicional sobrevive sem dinheiro público”, explicou. Para ele as mídias livres e comprometidas com as transformações necessárias na sociedade e na economia poderiam “fazer muito com apenas um pouco de dinheiro”.

Portanto, não há e não pode haver contradição na existência de mídias livres feitas voluntariamente pela sociedade, pessoas ou organizações, e mídia produzidas por profissionais de comunicação comprometidos e que tem nesta atividade o seu ganha pão. (Envolverde)

Um comentário:

Anônimo disse...

Dal,

é muito dificil ter um modelo definitivo para conciliar independência de opinião com sustentabilidade econômica no jornalismo. Por definição, o jornalista precisa ouvir as várias versões do mesmo fato, e auto-censura ou pressão direta podem fazê-lo ser mais ou menos consciencioso sobre as versões. Como o poder público pode ser parte envolvida em fatos e eventos que geram noticias, o financiamnto público (uma idéia defensável quando a causa é de interesse coletivo) poderá causar estes constrangimentos. Por isto é que no Forum Mundial Midia Livre "não ficou muito claro como garantir informação de qualidade e independente com profissionalismo jornalistico", como você reportou. Porque esta é uma conta que não fecha.

Abs

Rogerio Ruschel