sábado, 17 de janeiro de 2009

Entrevista com Dal Marcondes


Outro dia fui entrevistado por colegas do jornal O Estado, do Ceará. Foi uma conversa bem interessante que reproduzo aqui para vocês. O original está AQUI
Dal

Dal Marcondes: ícone do jornalismo ambiental
Jornalista e empreendedor na área de meio ambiente e responsabilidade social. Diretor de Editorial da Agência de Notícias Envolverde, fundada em 1997.

Para o entrevistado “o Brasil ao final do mandato do atual presidente, certamente será um país melhor do que ao final do mandato de Fernando Henrique, que também foi melhor que seu antecessor e assim por diante. Creio que estamos em um processo evolucionário. Se não fossem as graves falhas ambientais e os desafios da globalização o país estaria em excelente forma sob um olhar histórico. Mas precisamos ainda atingir muitas das metas do milênio antes de poder dizer que o Brasil evoluiu.”

[O Estado Verde] Como nasceu a Envolverde?

[Dal Marcondes] Foi um sonho ou um acaso?A Envolverde surgiu de uma vontade de trabalhar com temas socioambientais. No início dos anos 90 o tema meio ambiente ganhou destaque por conta da Rio 92. Na época poucos jornalistas estavam preparados para cobrir estas novas pautas e havia muito pouco esclarecimento da sociedade sobre os impactos ambientais das atividades humanas. O primeiro trabalho da Envolverde foi em 1995, quando começamos a fazer o projeto Terramerica, uma parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Em 1998 o site www.envolverde.com.br entrou no ar e começamos a distribuir conteúdos para jornais e revistas de todo o Brasil.
Creio que o mais correto é dizer que a Envolverde nasceu de um sonho. Certamente não foi de um acaso.

[O E. V.] A Revista Digital Envolverde assumiu uma posição de destaque como mídia e ganhou espaços relevantes: 150 mil assinantes, 2 milhões de visitantes por mês e 130.000 referências no Google e oferecendo materiais de qualidade para leitura livre. Qual o segredo para fazer uma revista eletrônica com tanto sucesso, num país onde a questão ambiental demorou ou demora a entrar efetivamente nas estratégias empresariais e no dia-a-dia do cidadão?

[Dal Marcondes] O segredo é o mesmo de todo empreendimento de sucesso: Trabalho. Deu muito trabalho construir a Envolverde como ela é, principalmente porque não tínhamos um modelo a seguir, fomos construindo o caminho enquanto caminhávamos. O importante foi desenvolver o conceito de uma publicação em rede. Hoje a Envolverde tem colaboradores em todo o Brasil e em muitos países do exterior graças ao conceito de rede colaborativa. Temos parcerias que nos permitem publicar conteúdos de parceiros e que permitem aos nossos parceiros a publicação de nossos conteúdos.
O trabalho de edição é baseado em um projeto editorial que privilegia ações e pautas que tenham como foco a sustentabilidade, mas também o desenvolvimento humano e a preservação ambiental. Não acreditamos na relevância de pautas que não tenham como reflexo a construção de um futuro melhor.

[O E. V.] As cópias dos conteúdos Envolverde não são permitidas indiscriminadamente por questões relacionadas a direitos autorais. Ademais, é uma agência de conteúdos, que oferece textos para jornais e revistas, que pagam para poder publicar. Como é esse processo?

[Dal Marcondes] A maior parte do conteúdo da Envolverde é Coyleft, ou seja, pode ser reproduzido desde que citada a fonte e preservada a autoria. No entanto alguns de nossos parceiros não permitem que seus conteúdos sejam reproduzidos livremente, estão protegidos por Copyrigth. Mas isso naõ significa uma restrição absoluta, muitos destes parceiros permitem o uso em projetos educacionais e sem fins lucrativos.
Em relação a reportagens produzidas sob encomenda por publicações clientes, o direito autoral fica vinculado ao cliente.

[O E. V.] O que é sustentabilidade na sua ótica?

[Dal Marcondes] Esta é sempre uma questão complicada, mas creio que há uma forma simples de explicar:
Filantropia - É dar o peixe a quem tem fome.
Responsabilidade Social: É ensinar a pescar.
Sustentabilidade: É cuidar das matas ciliares, da qualidade das águas, das nascentes e dos mares, é cuidar para que haja peixes para sempre.

[O E. V.] Estamos às vésperas de mais uma reunião da ONU, onde serão discutidas medidas/propostas de cada país, relativas ao controle de emissões de GEE. Propostas já foram apresentadas, algumas prestes a serem apresentadas que certamente afetarão o atual modelo de produção em todo o mundo. Como você analisa o estágio de preparo ou adequação da indústria brasileira, do governo brasileiro e da sociedade brasileira como um todo, frente a questão?

[Dal Marcondes] O Brasil é um dos países onde as questões relacionadas às emissões de carbono estão mais avançadas. No entanto, não são as empresas as grandes vilãs das emissões por aqui. O grande problema brasileiro é provocado pelas queimadas na Amazônia. O Brasil é o 4o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Se tirarmos as emissões de queimadas caímos para 14o.
Existe uma vanguarda de indústrias que está preparada pare reduzir suas emissões, e a matriz energética brasileira ainda é “limpa”. Mas é preciso que o País assuma metas em relação à redução de emissões, o que ainda não aconteceu. Espero que isto venha a acontecer nas próximas reuniões.

[O E. V.] Na União Européia especificamente, os governos incentivam adequação do setor produtivo aos novos padrões de emissão. Nesse contexto como você analisa as ações do Governo brasileiro de incentivo ao setor produtivo nacional?

[Dal Marcondes] O governo brasileiro é muito conservador em relação às metas para as empresas locais. Acredito que a regulamentação internacional venha a ser um estímulo, mas hoje o que vemos são as reduções voluntárias por parte de algumas empresas. É pouco, temos de penalizar os grandes emissores. Tributos mais altos e petróleo mais limpo.

[O E. V.]
Você acha que depois da “era Lula” estaremos mais educados, mais cultos, mais ricos, mais saudáveis, enfim, com mais “sustentabilidade”?

[Dal Marcondes] A “era Lula” é parte de um processo que vem desde o fim da ditadura em 1986. Não pode ser vista fora deste contexto. O Brasil ao final do mandato do atual presidente certamente será um país melhor do que ao final do mandato de Fernando Henrique, que também foi melhor que seu antecessor e assim por diante. Creio que estamos em um processo evolucionário. Se não fossem as graves falhas ambientais e os desafios da globalização o país estaria em excelente forma sob um olhar histórico. Mas precisamos ainda atingir muitas das metas do milêncio antes de poder dizer que o Brasil evoluiu.

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